Você sabe qual é o papel do psicólogo e qual a finalidade da psicoterapia?
Ainda existem muitas crenças equivocadas sobre a psicologia, e muitas pessoas ainda têm preconceito em relação aos cuidados do psicólogo e sobre as suas práticas, sendo uma delas, a psicoterapia.
Neste texto eu falo sobre 9 mitos sobre psicólogo e psicoterapia, que assim como eu, grande parte dos psicólogos, psicoterapeutas e estudantes de psicologia já ouviram e provavelmente ainda ouvem com uma certa frequência.
São eles:
1º mito: Quem vai ao psicólogo é louco
Esse é um dos mitos mais frequentes.
Em seu contexto clínico, a psicologia surgiu por demandas específicas voltas para questões de desajustes sociais e mentais, porém se modificou ao longo dos anos, e deixou de agir somente na cura, passando a agir também, na prevenção e manutenção.
A psicoterapia não trata somente de patologias, ela também auxilia no autoconhecimento, autorrealização, na ressignificação de crenças limitantes, em questões emocionais, cognitivas e comportamentais, que precisam ser ajudadas e resolvidas.
Muitas pessoas procuram a psicoterapia para aprender a lidar melhor com questões pessoais (dificuldades, conflitos, mudanças), assim como também para um melhor desenvolvimento de si e como um auxílio para o enfrentamento e preparação de novas fases e ciclos.
O psicólogo deve ser visto como um profissional de saúde mental, e não de doença mental.
Mesmo que existam desajustes mentais e sociais, também é necessário repensar sobre a ideia de loucura.
Porque afinal de contas, quem define o que é normal?
Gosto muito de uma frase de um filósofo e escritor indiano chamado Jiddu Krishnamurti que diz o seguinte:
” Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”
2º mito: Quem vai ao psicólogo é fraco
Não existem pessoas “fracas” ou “fortes”, a única força capaz de ser medida é a força física. Fora ela, o que existe são diferentes maneiras de lidar com situações específicas.
Procurar um psicólogo, muitas vezes, é reconhecer a existência de um problema e a necessidade de ajuda para superá-lo. Não tem a ver com fraqueza, e sim com o compromisso com seu próprio bem-estar.
Não há como mensurar a dor alheia. Seja qual for o seu sofrimento ou o seu problema, ele é válido e precisa de cuidados!
3º mito: Psicólogos são videntes
Psicólogos não leem mentes e não possuem uma bola de cristal. Não adivinham pensamentos e sentimentos, portanto, não tem soluções ou respostas para os seus problemas ou demandas.
Não espere fórmulas mágicas ou receitas com passos imediatos para ser feliz e se livrar dos problemas.
O processo terapêutico é uma construção, um trabalho conjunto, entre terapeuta e paciente.
O psicólogo é um facilitador do seu caminho, mas cabe a você encontrar as suas próprias respostas.
4º mito: Psicólogos não têm problemas e “tiram de letra” as dificuldades
Se fosse assim, não existiriam nutricionistas acima do peso e os médicos não ficariam doentes.
Os psicólogos também precisam conhecer a si mesmos, aprender a enfrentar os seus “monstros” e é muito importante que estes também façam terapia.
Nós, psicólogos, antes de sermos psicólogos, somos seres humanos. Não somos semi-deuses. Vivemos no mesmo mundo e passamos pelas mesmas dificuldades que qualquer pessoa.
E isso nos aproxima. Somos semelhantes. Pelo menos algumas de suas dores e batalhas, se assemelham às minhas.
5º mito: Psicólogos analisam as pessoas o tempo todo
Grande parte (se não, a maioria) dos psicólogos e estudantes de psicologia já ouviram, em seu cotidiano e vida pessoal, frases do tipo:
- “Você está me analisando?”;
- “Você já deve ter feito um diagnóstico meu, durante a nossa conversa”;
- “Sobre isso que eu lhe falei, você acha que eu tenho algum problema?”;
- “Você sabe se eu estou mentindo ou falando a verdade através dos meus gestos?”;
- “O meu marido isso, o meu filho aquilo… O que você pensa a respeito?”.
Eu por exemplo, já ouvi todas as frases que eu citei acima e mais algumas. A que eu ouço com mais frequência, até hoje, com certeza é a “você está me analisando?”.
Mas a verdade é que não. Nós não analisamos as pessoas, o tempo todo. Nós não diagnosticamos pessoas e não ouvimos nas entrelinhas, enquanto estamos na nossa vida particular. Em nossos momentos de lazer, no nosso tempo livre.
A nossa escuta, enquanto psicólogos, é uma escuta clínica, diferente da escuta, na vida pessoal.
É claro que mesmo em nossa vida particular trazemos o nosso conhecimento e as nossas experiências, mas não aplicamos técnicas no dia a dia, com nossos amigos e familiares e nem tampouco, os analisamos.
6º mito: Se o psicólogo não passou pela mesma situação que eu, ele não está apto para me compreender
– “Se o psicólogo não for casado, ele não vai saber nada sobre casamento/relacionamento”;
– “Se o psicólogo for muito novo, ele não tem muita experiência e não pode me ajudar. Aliás, eu já vivi muito mais do que ele”;
– “Se o psicólogo não tem filhos, ele não sabe nada sobre crianças.”;
– “Se o psicólogo não teve depressão, ele não sabe como é na prática. Só quem já passou sabe como é”.
Esse tipo de visão é muito frequente e equivocada, pois a formação do psicólogo possibilita, através de anos de estudo sobre o ser humano, a compreender diversas realidades e situações, em diferentes fases da vida, e com diferentes perspectivas.
Além da teoria, o psicólogo também aprende na prática. São dezenas de disciplinas, estágios, atendimentos e supervisões que ele traz na bagagem e possibilitam o seu entendimento através de vivências, assim como o torna apto para lidar com situações diversas.
Um médico não precisa ter câncer para saber lidar e tratar do câncer, certo? O psicólogo da mesma forma.
7º mito: Psicoterapia é a mesma coisa que autoajuda
A psicologia, enquanto ciência, parte do pressuposto de que cada indivíduo é único e subjetivo, ou seja, traz consigo formas de ser e estar no mundo. Ela leva em conta a questão psicossocial e entende que nem tudo é para todos. Cada caso é um caso.
A autoajuda, por sua vez, geralmente discute assuntos demasiadamente abrangentes, não leva em conta a diferença cultural e nem o contexto social. Sugere caminhos e não leva em conta as particularidades de cada um.
Na psicoterapia os sentidos são construídos, reconstruídos e reforçados e o paciente é quem traça o seu caminho, ele é autônomo enquanto sujeito e senhor das suas escolhas.
8º mito: Psicólogos são sempre calmos, tranquilos e equilibrados
Não, não somos. Nós, psicólogos, estamos sujeitos as mesmas variáveis que qualquer outra pessoa.
Nós temos os mesmos sentimentos e emoções, e por mais que o que se espera é que saibamos lidar com as emoções e adversidades da vida de uma forma mais equilibrada, nós não sabemos lidar com tudo e também não somos seres angelicais e perfeitos, que conseguem manter a calma e a tranquilidade o tempo todo.
Lembro de um episódio, em que eu estava no final da faculdade, exausta, dormindo 3 horas por noite, estudando, trabalhando e estagiando, e em um dia certo dia, eu fiquei muito brava e indignada com uma situação e uma pessoa próxima me falou: “nossa, mas tu já és quase uma psicóloga, não deveria ficar assim, tens que dar o exemplo.”
É claro que eu exagerei, porque como eu falei, eu estava cansada, exausta e juntou um monte de variáveis. Talvez se eu estivesse descansada, em um ritmo menos acelerado, eu não tivesse ficado tão brava daquela maneira, mas o fato e que aquela frase me deixou mais indignada ainda.
Nós não temos controle sobre as variáveis, também estamos expostos. E sim, em alguns momentos também brigamos, nos indignamos, ficamos irritados e bravos.
Psicólogos não são monges e nem seres de luz. E isso não nos torna menos capacitados.
9º mito: Estou tomando remédio prescrito pelo psiquiatra, não preciso ir ao psicólogo fazer psicoterapia
Muitos pacientes começam a se tratar com psiquiatras antes da buscarem psicoterapia. Obviamente, se o medicamento prescrito for o adequado e o seu corpo reagir bem, após em média 15 dias, você deverá sentir uma melhora dos sintomas.
O problema não é o medicamento em si, o problema é achar que por ter uma melhora dos sintomas, os seus problemas estão resolvidos.
Os medicamentos agem nos sintomas, e não na causa. Os sintomas são a “pontinha do Iceberg”, ou seja, o que se vê e sente. Mas existe algo anterior a isso. Ou seja, a causa.
Se a causa dos sintomas não for investigada e trabalhada, existe grande possibilidade de eles retornarem, assim que o medicamento for retirado.
Por exemplo, se uma pessoa está resfriada, ela pode fazer uso de medicamentos e os sintomas podem desaparecer certo? Porém, algo causou aquele resfriado. Ela não ficou resfriada “do nada”.
Se o que causou aquele resfriado foi ela ter tomado chuva e ter ficado molhada por algumas horas, em um dia frio, e ela continuar tomando banhos de chuva em dias frios e permanecer molhada por horas, as chances de ela se resfriar novamente é grande.
Nada surge do nada. A causa antecede os sintomas.
Por isso, se você está tomando medicamento e quer agir na causa, na raiz do problema, você deve sim procurar um psicólogo e fazer psicoterapia.